sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

PADRE SÁTIRO, UM ÍCONE DA EDUCAÇÃO

                                         Padre Sátiro, em foto de Eriberto Monteiro


Por Padre João Medeiros Filho



Cabem com precisão na vida de Padre Sátiro Cavalcanti Dantas os versos de Dom Carlos Alberto Navarro, inspirados no Salmo 23/22: “Sou bom pastor, ovelhas guardarei, não tenho outro ofício nem terei, quanta vida eu tiver, eu lhes darei”. No dia 22 de janeiro, Mossoró cobrir-se-á de uma névoa densa de preces de louvor e gratidão, proclamando as maravilhas do Senhor pelos 90 anos de existência do memorável Padre Sátiro. Este poderá evocar as palavras de Cecília Meirelles: “O tempo que navegaremos não se pode  calcular. Mas, a beleza da vida é inefável”.
Sacerdote de grandes virtudes, dinâmico e pródigo de realizações, Padre Sátiro é antes de tudo um místico. Dialoga no âmago de seu ser com o Infinito de Deus. Profundo conhecedor da obra teológica de Santo Agostinho, tocado pela sua espiritualidade, balbucia preces na capela do Colégio Diocesano Santa Luzia. Ali, conversa com Deus na quietude das primeiras horas do alvorecer. Acredita, como Exupéry, que “no silêncio alguma coisa irradia”. E assim pensando, fez erigir o Mosteiro das Clarissas. Certa feita, dissera-nos descontraidamente, em seu gabinete: “O que tenho ou recebo, nada é meu; tudo não passa de um empréstimo de Deus. Pertence aos seus filhos. Para eles deve retornar”.
Sempre foi imbuído da esperança, qual uma estrela em sua vida. E tem razão Mário Quintana, quando proclama: “Se as estrelas parecem inatingíves, não é motivo para não desejá-las”. Nutrido por tais sentimentos, aliados à sua fé e coragem, conseguiu estadualizar a atual Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, uma utopia para muitos. Seguindo as pegadas de Cristo, atravessou águas turvas e caudalosas da burocracia e da política, tornando o sonho em realidade.
Das nove décadas vividas, seis foram dedicadas à educação dos mossoroenses, que justa e merecidamente o cultuam como sacerdote e mestre. É notório seu amor pelo Diocesano, hoje acrescido da Faculdade Católica, sua filha caçula, sacramento terreno da Igreja, Mãe e Mestra, na expressão do Vaticano II. Convém ainda ressaltar, dentre suas obras, a Rádio FM 104 Santa Clara, a Escola Erondina Cavalcanati Dantas. em homenagem à sua mãe, o Centro de Evangelização Madre Maria Cecília, presença eloquente de Deus junto aos devotos da Virgem de Siracusa, especialmente os mais carentes.
Padre Sátiro é, sobretudo, um verdadeiro sacerdote, homem do Divino e do Sagrado. O presbítero deve ser profeta e poeta. Por isso, falou sempre em nome de Deus, exercendo o múnus profético. Espelhou em sua vida e realizações as belezas divinas, revelando a sua força poética. É marcante o seu amor à Igreja e a Maria. O poder, o prestígio e a ciência não o afastaram dos sacrossantos misteres. Como a Virgem Santíssima, “guardava em silêncio os acontecimentos, meditando-os em seu coração” (Lc 2, 19). Em 1954, Ano Santo Mariano, centenário da proclamação do Dogma da Imaculada Conceição, obteve o beneplácito da ordenação sacerdotal.
Ingentes e palpáveis são seus gestos de fraternidade e solidariedade com todos.  A muitos estimulou espiritual e intelectualmente. A quem necessitava de ajuda, ele acorria. “E repartiam os bens e não havia necessitados entre eles” (cf. At 2, 45; 4, 34), descreve Lucas, narrando os primórdios da Igreja.  A quantos alunos carentes concedeu bolsas de estudos! Contribuiu para a formação de muitos leigos, religiosas e sacerdotes. 
Seu valioso contributo como sacerdote e educador ficará registrado na história da diocese de Mossoró e do Rio Grande do Norte. Sua passagem pelo Conselho Estadual de Educação é vivamente sentida. Vários documentos e normas trazem a sua marca. Porém, o que vale mais é seu amor à Eucaristia e ao Evangelho. Qual outro Pedro, respondendo ao Mestre, quando instado, se iria abandoná-lo, afirma: “A quem iremos, Senhor, só tu tens palavras de vida?” (Jo 6, 68). De postura ecumênica, nosso homenageado lembrou-nos certa feita, antes da novena de Santa Luzia, em 2007: “Deus dotou seus filhos de asas, mas nós queremos criar gaiolas”.
       Padre Sátiro é imortal, não apenas por ser membro da AMOL e da ACJUS, mas pela grandeza de sua vida e nobreza de sua alma.

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