segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

REMINISCÊNCIAS




Nos tempos das serestas, por Paulo Menezes

     O ano era 1965. O país vivia o segundo ano da ditadura militar que duraria duas décadas. Eu e um grupo de amigos fraternos, frequentadores assíduos do coreto da Catedral de Santa Luzia de Mossoró fomos convocados para o serviço militar, na época servir ao glorioso Tiro de Guerra 188. Os componentes do grupo: eu, Emery Costa, Bira Menezes, Raul Caldas, Guga Escóssia e João Vieira. Foi tempo de servir à pátria mas também época em que, na flor da idade, aproveita
mos e aprontamos bastante. Pra começar, sempre quando terminavam as instruções militares, reuníamos no bar do Sargento Maurílio para, ao som magistral do violão de Wellington Couto, tomar todas a que tínhamos direito. O recorde, me lembro bem, demos uma baixa no estoque de 96 cervejas de 600 ml. Naquele tempo não havia a long neck. Após a bebedeira, alguns pararam e outros continuaram. Programamos então uma seresta num internato administrado por freiras, vizinho ao Palácio Episcopal e relativamente próximo à sede do Tiro de Guerra. Agregaram-se ao grupo que continuou a farra Alonso e Odilon Rodrigues. Quando Alonso estava cantando Malaguena Salerosa, no início da noitada, eis que surge um atirador com um fuzil engatilhado ordenando o fim imediato da serenata. Ocorreu então um fato imprevisível. Odilon, avançou em direção ao reservista, abriu a camisa e sentenciou: - atire, seu covarde. Essa arma só dispara se apertar o gatilho. Vamos. Está esperando o que? Você com esse mosquetão não nos amedronta nem vai acabar com nossa noite. Na verdade, não atemorizava a ele porque eu e a maioria dos participantes procuramos nos abrigar por detrás de umas cajaraneiras esperando apenas o estampido iminente, que, graças a Deus, não aconteceu. Com o barulho, as freiras despertaram e chegaram gritando em prantos pedindo por tudo que se evitasse o mal maior. Houve afinal uma quietude, o soldado ensarilhou a arma e o pedido das irmãs foi atendido. Terminada a aventura escapamos todos e eu, particularmente, passei um bom tempo sem querer nem ouvir falar a palavra serenata.

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